na artéria

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Location: portalegre/covilhã, alentejo/beira interior, Portugal

um pouco disto, um pouco daquilo..acolá.

Tuesday, November 29, 2005

fatalismo

ouvi dizer algures: "está fora do meu controlo". quis, eu sei que quis. foi consciente e concentido. eu própria assinei um contrato com a minha vontade.
sinto que me atraiçoei negando uma fase que também era minha. era, parece já não ser. e digo isto porque os consigo com dificuldade. a minha bondade, o meu altruísmo. este último, mais do que a minha bondade, coexistia saudavelmente com a minha pessoa. actualmente custa-me. e noto aqui o meu descontrolo, porque me custa que me custe. porque me custa o esforço adicional que tenho de concentrar e direccionar para tal intenção. a minha intenção está baralhada. como um baralho de cartas antes de um jogo decisivo. mas neste caso, eu como jogadora, não realizo a importância da minha atitude neste jogo de comportamentos. negligência, leviandade, egoísmo.
martirizo-me agora. condeno-me mesmo pelas linhas com que me ando a coser. fios entrelaçados numa ficção, que foram adquirindo contornos reais. dói-me que me doa o que eu quis para mim.
encurralei-me no corredor das liberdades. era perfeito para o meu objectivo definido. conjugavam-se as necessidades com a vontade. diria eu que sim..
acabo assumindo, mais uma vez, a minha fraqueza. refugiei-me num ecletismo que talvez não me seja compatível. quebrei-me entre a sensação e a razão.
invariavelmente, sinto-me perdida. não acreditando em fatalismos, analiso-me curvada perante o meu fatalismo. e vejo-me desvirtuar em estranhas conclusões.

Monday, November 28, 2005

escolho dias

escolho dias para me concentrar.
incompetentes, irresponsáveis,
esses dias são grandes ironias,
motivos de distanciamento.
relembram-se questões de cultura
o amor, a bondade e a beleza.
a imaginação, a luminosidade,
a simetria e as formas arquetípicas.
o romantismo como doença.
escolho os dias para me concentrar.
modernidade estática e industrial,
o conceito e a nova vivência da arte
uma doçura de concentração.
exagero esquemático, conversa de café,
conferências de casino.
inovação a cada momento
de uma estética imperfeita
entendê-lo não como opositor,
mas sim como ente que gera arte.
sejamos diferentes
sejamos inauguradores da nossa vontade.
eu sou um pequeno
que escolhi os dias para me concentrar.
a percepção é completamente necessária
nitidez é precisa, mas nem tanto.
os movimentos insurgem-se,
válidos ou não.
o mundo e a arte
adulteremos o nosso olhar
à medida do positivismo.
ele diz-me que durma
sobre o âmbito científico.
e eu continuo a escolhê-los.
medicina, fisiologia, método experimental.
ócio e vício pouco são
queiramos alguma tristeza
para a nossa concentração.
porque não um romance fútil?
algo que nos dê alguém em quem pensar.
alguém como algo.
um sinal que substitua um sentimento,
uma distracção.
surge a sociologia.
as relações humanas também são passíveis de estudo.
existe uma procura inexplicável, inevitável.
conheces a minha vida?
a informação histórica alterar-se-á.
funciona como perspectiva.
custa-vos?
a mim sim!
a mim dói-me particularmente.
sim, uma reflexão.
falarei da unidade
falarei do conhecimento do mundo.
e da importância de encarar as coisas
de um modo científico.
paralelamente existe um combate metafísico
no contexto histórico-social.
algumas ideias básicas
tal como o psiquismo do indivíduo,
os estados são
teológico, metafísico, científico.
assim como para a mentalidade da literatura.
o porquê, o como, o processo de agir.
contextos, como eu gosto de contextos.
perfeitamente desenquadrados da minha vida,
mas assim mesmo contextos.
puros contextos de arte!
é algo muito diferente,
como se fosse uma criança.
e é também assim que eu devo tratar
a minha ideia, a minha literatura,
a minha clivagem.
possuo argumentos
possuo relatos,
não reais mas cópias.
mas referem algo na mesma.
a arte é o resultado do mundo em que habita.
está profundamente incrustada.
a sociedade vive de idealismos profundos.
e eu hoje escolhi o dia para me concentrar na desconcentração.
ainda não me arrependi
daquilo que fiz há uma hora atrás.
com vontade falo de um herói romântico, utópico.
a criação do altruísta deve estar ligada
a todas as questões sociais.
ao calor, ao sufoco indolente.
que mágoa..
mas quem é ela?
o desejado passa a odiado impereterivelmente.
não existe educação que resista
às queimaduras de uma tal tacanhez.
a arte falseia a sua missão:
denunciar, demosntrar
em tese, em esquema ritmado.
custa um pouco..

Thursday, November 24, 2005

alguém me anda a enfiar ferros na espinha que eu não consigo ver, que me doem como eu não consigo discernir e que me moem sem que eu me possa revoltar. vou aguentando até que a locomoção tropece na cama em que me vou quedar.

Tuesday, November 22, 2005

os pulsos

doem-me seriamente os pulsos. mas não me parece que seja capaz de os cortar. não me parece que seja seriamente capaz de me privar deles. enfatizo esta dor para que outras sejam suprimidas. porque caso assim não se verifique, o massacre será ávido e constante.
prefiro tocar-lhe levemente a ignorá-lo em irreversível ironia. é do amor que falo. conversa nula, monólogo infrutífero. em mais uma das fases que me caracteriza aticamente, matei o amor. sinto-o presentemente morto e irressuscitável. perdão. sim, dói-me mais esta constactação do que os pulsos e o pulsar que neles se opera. mas ainda assim susceptível à alternância. o coração, esse, não resite à operação. músculo parado encerra sentimento morto, digo eu. lamento, mas neste momento não lhe posso valer. e a dor perpétua-se.
a ambiguidade segue-se. saturada, mas esperançosa de vontade. eu conheço o meu impulso para a amar. conheço também o que gostaria de oferecer a alguém. não será certamente viável nos tempos que correm.. assim como nos pulsos e no que os constituem (vénulas, arteríolas, tendões e outros mais segmentos, cordas!) , não calculo no coração, qual a cavidade morfológica mais inanimada. necessito de alguém, que de sangue limpo, me faça uma transfusão de energia cinética. a dose suficiente para contrariar a inércia instalada, incrustada.
a morte do meu amor está em si mesma. é uma profunda realidade já adquirida pela minha razão e entendimento e seriamente repudiada pela minha sensação. ela, mais realista do que o meu mecanicismo, fala-me de uma fuga descarada e desprovida de qualquer sentido. como se não contente, essa mesma sensação ataca-me com determinada periodicidade atirando-me à cara o facto de ter criado uma estratégia encantadora e alienada. diz que me refugio para que as minhas capacidades de analgesia sejam só respeitantes ao sofrimento físico.. opinião perfeitamente respeitável. mas não menos confusa.
tenho dormido com alguma facilidade sobre a almofada que me deito. muito embora não me livre de acordar num leito desorganizado, caótico mesmo.
os pulsos continuam a latejar. e com eles outros refúgios palpáveis, para que não interiorize a ideia de providenciar um funeral digno e assumido para a morte da parte de mim que ama.

Monday, November 21, 2005

a minha intenção (continuação)

como vês, bem te entendo. também sei que te passeio pela mente. vá-se saber porquê.. e sem que necessariamente eu te raspe a visão com a minha passagem. creio nisto. és seguramente pouco mortal, mas também pouco imortal. acho que por momentos até te julgas morto. mas terá um morto legitimidade para destabilizar as hormonas de um vivo? de um semi-vivo, diga-se, que eu também não me julgaria propriamente com as características de alguém que vive.. é mais poético descrever o meu estado como um sonambulismo. não custa tanto e é mais aceite. afinal todos nós somos sonâmbulos um dia.
falaste do esquecimento. não em geral, circunscreveste. custou-me, de um custar do qual custa falar. assumo fraquezas, entristeceste-me. tornaste toda a minha inútil esperança ainda mais inútil. fútil.
eu desejava, com sobrevivente alma, passar através de tudo isto ilesa. com um sublime relance, infantil. um dia desculpei-me pela minha atitude. quase te passei um atestado de linearidade adulta. que adulto tu és! principalmente quando transportas pequenas partículas de álcool no plasma. e algumas verdades..
os dias passam e não te vejo. penso em ti, sonho contigo..não te vejo. eu não entro no teu filme e duvido que algum dia entres no meu. mas eu continuo a querer dar-te um papel relevante. a minha vida é feita de talvez. por isso talvez o mereças.
a realidade objectiva é por vezes insuportável. há que agir contra esses rasgos de incapabilidade. e sonhar, jogar, entrar noutro espaço que não este. assim o fiz um dia. assim foste o meu real objectivo um dia. eu corri, eu esquivei, eu argumentei, eu mostrei a minha carga hormonal. era o meu filme. como um sonho, um jogo, outro espaço. o dobro do som, o dobro das cores, o dobro do perigo, o dobro das sensações.. naquele dia eras meu. não foste.. a primeira parte do meu filme foi um fracasso. não houve lugar a segunda, terceira, quarta parte. o público repudiou-o. meu espanto quando percebi que tu fazias parte do público. nunca estiveste comigo do outro lado, o da película. nunca foste o meu real objectivo. pior para mim.
alguma vez me sentiste? cada uma das tuas pontes de comunicação com os outros são frágeis. a que tens comigo é praticamente inexistente. auxilio-me da tolerância para não te agoniar. dói como ferros na espinha. tentarei um dia um analgésico potente. forte o suficiente para me tornar imune à pressão. o meu medo é o de sentir mais tarde que não lutei. porque efectivamente nunca lutei por nada. o meu grau incisivo vacila consoante o acordar. será que estou acordada o bastante? poderia eu acordar mais um pouco?
as mazelas são internas, não visíveis, mas ando a enxertar-me todos os dias.

Thursday, November 17, 2005

a minha intenção

a minha intenção e tudo o que eu utilizo para servi-la e efectivá-la será interpretado como tal? ou será que a técnica que ando a usar não é a mais adequada? terás andado a interpretar convinientemente, para mim, aquilo que te tenho vindo a demonstrar? não me atires a lógica e a razão à cara. não me sirvo desses meios para chegar ao teu fim, quando o que pretendo é satisfazer a alma do que sinto. não se define, não me podes pedir explicações. é feio que me peças explicações por aquilo que te dou de vontade própria. nunca mais te devia dar nada! não mereces... mas eu não escolho. sim, eu tenho conhecimento do teu egoísmo, do teu hedonismo, do teu masoquismo e da tua solidão. do teu medo de dar e receber. principalmente do teu receber sem certamente poderes dar. mas não devias afiligir-te tanto. nem ansiar esses problema. podias aceitar sem o compromisso de dar. sem relativamente te esqueceres de que estou aqui. não intenciono cobrar descaradamente. intenciono extasiar ao teu lado. melhor, já nem isso intenciono, porque tal acontece inconscientemente. mesmo sem corpo presente. o meu radar sensorial denuncia a respiração de cada um dos teus poros, que consequentemente activa a respiração acelerada de cada um dos meus. olhos vulgares, de um castanho vulgar, pele morena, o tal cheiro. que insignificante tu és no meio de tantos outros. esses outros negligenciam-te. eu não. dá-me pena a tua tentativa de auto-mediocridade. porque é exterior a ti. forças interiorizá-la e gabas-te disso. e aí surge aquela ar, aquela pose, aquela fita, a tua atitude. que rídiculo tu és... que apetecível me pareces à líbido que dor me provocas aos olhos. é incrível como desorganizas todo o meu sistema sanguíneo. eriças-me o arterial e o venoso respectivamente. fazes-me perder capacidades que pensava já adquiridas e de certo modo cimentadas na minha vacilante personalidade. fizeste-me acreditar na incerteza, na possibilidade da incerteza do que digo sentir. já não o digo mais. limito-me a sentir por comodismo. as adversidades que daí resultam fazem parte do meu objectivo. tornam-no desejável, cada vez mais. apetece-me ver, ouvir, saborear, cheirar, tocar. tocar, tactear, agarrar, sentir através dos dedos. a tua matéria corporal a passear sobre toda a minha superfície epitelial. já te deste conta dos tecidos internos e externos que nos formam? a quantidade de pequenas fibras sequencialmente esquematizadas... poderiamos fundi-las, se tu assim o quisesses. isto é o modo como eu existo. deixo de existir se esquecer uma única fibra que me compõe. penso que não será se saudável se te esqueceres de alguma das tuas. posso dizer que conheço algumas, mas todas são importantes. as exteriores estão organizadas de maneira bela. de forma tão profundamente bela ao meu olhar, que me arrisco a dizer que és a minha beleza. és a beleza dos meus olhos. quase que lhes agradeço por te verem assim. por te verem assim tão bonito sem, talvez, efectivamente o seres. é feio mentir. gostava que percebesses o quão o meu despreso é fingido. o quão forço a ignorância que te presto ocasionalmente, quando te vejo. e o quão extrapolo os sentimentos quando te intersecto embriagada ou alterada por qualquer outra coisa. a verdade é que todos os dias a verdade muda. intocavelmente. mas esta é, por hora, a minha verdade. cabe-me a mim vendê-la pelo melhor. fazer-te crer nela. mas tu pareces-lhe imune. indiferente diria. o teu egoísmo fala por ti.
egoísta, eu? nunca , se o nunca for um sempre que sempre o será.

Sunday, November 13, 2005

deixemo-nos de durezas de pensamento. que as coisas surjam em nós com determinada contemplação. e que o mal seja para nós como a leveza de uma memória inconsciente. o mal que vem de fora, dificilmente o que vem de dentro..tudo o que necessitaremos de cumprir é o conjunto de leis sobrevivenciais.
há quem, existe quem não saiba amar e ame.

há coisas que não têm sentido, porque o sentido não fará parte de coisas que se o tivessem deixariam de existir.

perdi a mobilidade interna

perdi a mobilidade interna
deixei de dominar interstícios.
desoriente-me nos esquemas filosóficos
fui mais longe e regredi.
dei de mim ao corpo e à alma
aceitei imposições,
impus aceitações.
falei e calei com semelhante facilidade
sempre achei que tudo era
demasiado claro.
dei-me ao luxo de fugir,
e continuo a deleitar-me nesse prazer..

digestão

eu como a tua vulgaridade e mastigo-a.
vejo e sinto o teu quadro interior,
que não me oferece alegria...
e até me agonio com a tua simplicidade
gosto de te criticar
e de brincar com a tua conduta correcta e linear.
sou mais eu se te digerir...

Saturday, November 12, 2005

venerar

viste a arte que eu não vi, nas proporções que eu não vi.
falaste do saber que eu não sei e deste-me a vontade.
criaste a motivação que eu não tinha, de um modo que nunca tive.
estranhei-te incessantemente com o verbo venerar.

esmiuçar

esmiuçamos pensamentos
dissertamos sentimentos
agoniamos por momentos,
eu e as unhas que roo.
viramos e reviramos
sentimos a dureza dos panos
evitamos o que amamos,
eu e as horas que não durmo.
ambicionamos a vertigem
tecemos promiscuidades
vagueamos no limite,
eu e vontade que possuo.

Monday, November 07, 2005

micro-hemorragias

rebentam-me pequenas veias no interior. micro-hemorragias que me coagulam o sangue e me estagnam o pensamento.

na ânsia
no descontrolo
no interno das palavras ocas
no olhar camuflado
no sentido afundado
eu adquiro!
na dor pasma
na avidez alastrada
na paciência perdida
na voz arrependida
na luz
eu sinto!

Wednesday, November 02, 2005

vida às camadas

por entender a vida às camadas, custa-me percepcioná-la como um todo. o conjunto para mim não assume sentido óbvio, embora saiba que ela se traduz numa argamassa condicionada.